Poemas - DETEM-TE:ASSIM SE CONTA TAMBÉM A NOSSA HISTÓRIA

Poemas - DETEM-TE:ASSIM SE CONTA TAMBÉM A NOSSA HISTÓRIA

DETEM-TE:ASSIM SE CONTA TAMBÉM A NOSSA HISTÓRIA
[Restos de incêndio. Serra do Gerês, 2013]]

detem-te por segundos a contemplar, no lombo das rochas, o fogo primordial que há milhares de milhões de anos alimentava a máquina do mundo e nos deixou em herança um tempo calcinado;vê, depois, o medronheiro humilhado no esqueleto dos seus braços nus, após o ardente beijo negro das chamas, ainda a lembrar a cobertura da Serra com rumorosas matas de carvalhos, azereiros, azevinhos, sobreiros, azinheiras...; por fim, lembra que a ecologia do nosso frágil mundo também é feita da violência e da dor de destroços e não apenas do sorriso dos renascimentos, que sempre rebentam as redomas onde os querem aprisionar: assim se conta também a nossa história de passageiros breves deste Planeta, que só de longe se deixa colorir de azul, pois ao perto outras marcas de vida lhe adoçam as feições, com as suas sementes e frágeis ervas ou flores a assinalar o outono e a primavera, o seu ininterrupto nascer e morrer e, com ele, o nosso, que ao mesmo organismo vivo pertencemos, amassados da mesma massa e animados do mesmo sopro.
Fonte: Norteando, Amadeu Ferreira e Luís Borges
Editora Âncora

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