História - A adoração das pedras
História - A adoração das pedras
A adoração das pedras existe desde a mais alta antiguidade, são vários os cultos conhecidos no nosso País em torno desta temática. Isto demonstra-nos, por um lado, o ateísmo dos nossos avós quanto à credulidade nas divindades teológicas modernas, e, por outro, certificamo-nos que esse vínculo ancestral ainda está bem arreigado nos nossos dias. Isso verifica-se, com mais intensidade, nos povos do Norte de Portugal, particularmente nas gentes confinadas à Serra do Gerês.
Março d'anta, Serra Amarela
Ainda hoje, frequentemente, ouvimos contar que fulano(a) foi à serra, a tal parte, livrar-se de certo mal ou encheu-se de virtudes - são os chamados remédios tópicos, virtudes mágicas, adquiridos da natureza animada, através do génio de um lugar específico.
Neste sentido, lembremos o culto das pedras "Raxadas" (hoje praticamente esquecido). A "raxa", o "parraxo" ou a "parraxa", são arcaísmos da pronuncia destes povos, que significam, propriamente, a vulva da mulher. Estes arcaísmos, dialectos, são ainda hoje muito generalizados nesta região. Segundo a tradição oral existe, na Serra do Gerês, uma pedra bailadeira onde as mulheres se iam deitar, esfregar, antes do levante solar, em súplica de fertilidade; tal ritual será antiquíssimo, imemorável, ao ponto de ninguém saber identificar o local com exactidão.
Certo dia, conjuntamente com o amigo Luís Borges (autor das fotos), durante uma jornada dedicada à fotografia, descendo um acanhado carreiro, falávamos da possibilidade de estarmos perante o hipotético local, visto que o semblante natural da penedia assim o indicava. Parámos por minutos, e lembrámos o lendário popular do culto das "pedras raxadas", e continuámos o caminho, vai daí, ficámos extasiados ao dar de caras com duas pedras singulares: subimos a "raxada"; em frente, do outro lado do carreiro, a sul, parece jazer um falo, erecto e fecundante, mas, o mais incrível e admirável foi descobrir-mos, espontaneamente, que estávamos perante a pedra bailadeira, a pedra vulva oracular, que as gentes mantêm viva na tradição oral.
Pedra bolideira com genitália feminina, Serra do Gerês
Fonte: Agostinho Veras
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